“Radcliffe – Brown,
por sua vez, introduziu a disciplina teórica da sociologia francesa
e veio em ajuda dos novos pesquisadores de campo com uma bateria mais
rigorosa de conceitos.” (pág. 51).
“Na verdade, ele também
era um homem de extremos, obcecado pela sua mensagem; tal como
Malinowski, era um egomaníaco e um dogmático.”
“Radcliffe – Brown
sofreu a influencia das teorias sociológicas de Durkheim antes da I
Guerra Mundial, e os anos produtivos de sua carreira foram dedicados
à aplicação dessa teoria às descobertas dos etnógrafos; uma
atividade que ele compartilhou durante a maior parte de sua vida com
Mauss, sobrinho de Durkheim.” (pag. 52).
“O desejo de Brown era
fazer os exames de ciências naturais em Cambridge, o seu diretor de
estudos insistiu em que era preferível apresentar-se em ciências
mentais e morais. Entre os seus professores estavam Myers e Rivers,
ambos psicólogos médicos e veteranos da expedição aos estreitos
de torres, o empreendimento pioneiro de Cambridge na área de
pesquisa antropológica de campo. O curso abrangia psicologia e
filosofia, incluindo a filosofia da ciência, que era lecionada em
parte por Alfred North Whitehead. Em 1904, tornou-se o primeiro aluno
de Rivers em antropologia.” (pag. 53)
“Guiado por Rivers e
Haddon, Brown realizou um estudo das ilhas Andaman em 1906-8. O seu
relatório granjeou-lhe um fellowship no Trinity, que ele manteve de
1908 a 1914, embora durante esse período também desempenhasse
funções docentes, por pouco tempo, na London school of economics. A
sua monografia inicial sobre Andaman concentrou-se em problemas
etnológicos e refletia as propensões difusionistas de Rivers.
Entretanto, não tardou em converter-se à concepção durkheimiana
da sociologia.” (pag. 53).
“Em 1909-10, Brown
proferiu uma serie de conferencias na L.S.E e em Cambridge, quais
expos o ponto de vista essencialmente durkheimiano que iria manter
pelo resto da vida.”
“... ao voltar-se para
Durkheim, ela fazia parte de um movimento bastante generalizado na
Grã-Bretanha nessa época...” (pag. 54)
“Ao mesmo tempo, é
impossível avaliar o que a conversão oferecia: método cientifico,
a convicção de que a vida social era ordenada de forma sistemática
e suscetível de analise rigorosa, um certo desprendimento das
paixões individuais, e um panache francês muito em voga.”
“... a sociologia de
Durkheim continua uma visão essencialmente otimista da possibilidade
da auto realização do homem numa sociedade metodicamente ordenada;
mas, ao mesmo tempo, o socialismo de Durkheim minimizava a “guerra
de classes”, e isso talvez tivesse atraído também a Brown.”
“Temos a sorte de
possuir um retrato penetrante de Brown em seus anos em Cambridge. Ele
fez amizade com um estudante um pouco mais moço do que ele, E.L.
Grant Watson, que cursava ciências naturais mas se tornou depois
romancista e uma espécie de místico. Watson acompanhou Brown em sua
primeira expedição de campo australiana.” (pag. 54).
“Não seria seguro,
entretanto, basear quaisquer argumentos de importância para a
sociologia somente na descrição acima do sistema andamanês de
relações.” (pag. 58)
“... método analítico;
no que dizia respeito a pesquisa de campo, contentou-se em descrever
o trabalho como um estudo de aprendizado, e apoiou-se maciçamente
nos relatos etnográficos de um antigo residente das ilhas.” (pag.
58)
“ Mais tarde, foi
convertido em ponto de vista durkheimiano de que o significado e a
finalidade dfos costumes devem ser entendidos em seu contexto
contemporâneo...” (pag.58)
“ Radcliffe – Brown
dividiu os “costumes” em três tipos: técnicos, regras de
comportamento e aquilo a que chamou “costumes cerimoniais”, nos
quais concentrou sua atenção. Os costumes cerimoniais incluíam
aquelas ações executivas executadas convencionalmente em ocasiões
de mudanças no curso da vida social.” (pag. 58).
“Apesar desse triunfo
no campo, ficou uma vez mais evidente que o seu trabalho era
etnografia “de levantamento e de aproveitamento de salvados”, e
que era estéril em comparação com o tipo de trabalho de campo que
Malinowski estava realizando nas Trobriand.” (pag. 60).
“Para os que
trabalhavam com ele nesse período, Radcliffe – Brown era o líder
de um desafio há muito esperado a Malinowski, representando senso
clareza e sociologia.” (pag. 64).
“ A sociologia de
Durkheim foi a mais importante influencia sobre o pensamento maduro
de Radcliffe – Brown, mas ele também permaneceu um evolucionista
na tradição de Spencer.” (pag. 65)
“ A analogia orgânica
não deve, é claro, ser interpretada de forma excessivamente
literal. Como Radcliffe – Brown observou certa vez, “as
sociedades não são organismos; não conhecem o que é parto nem
morte.”” (pag. 65)
“ Apesar das menções
iniciais a uma explicação “cultural” e “psicologica”, a sua
orientação desde 1910 foi definitivamente psicológica. Para ele, a
sociologia significava a espécie de trabalho realizado por Durkheim
e , acrescentava as vezes, Steinmetz e Westermarck, mas era
certamente a corrente geral de pesquisa e reportagem social que
passava por sociologia nos Estados Unidos. Ignorava, segundo tudo
leva a crer, a obra de Weber e Simmel, mas as teorias destes só se
tornaram amplamente conhecidas na Grã- Bretanha na década de
19540.” (pag. 65).
“E assim, depois da I
Guerra Mundial, coube a Mauss e a Radcliffe – Brown trabalharem
paralelamente para desenvolver a sociologia durkheimiana. Poderíamos
resumir o desenvolvimento desde Durkheim ate Mauss e Radcliffe- Brown
dizendo simplesmente que os estudos de Malinowski nas ilhas Trobriand
se situaram de permeio. Curiosamente, eles influenciaram mais o
trabalho de Mauss do que o de Radcliffe – Brown, e o próprio
Malinowski não tardaria em afastar-se das preocupações e ideias de
Durkheim.” (pag. 67)
“
Mas eu exagerei a
unidade do legado de Durkheim, já que podemos distinguir, pelo
menos, duas correntes divergentes, uma que foi seguida por Mauss
enquanto Radcliffe- Brown adotava a outra. Em primeiro lugar, havia o
estudo das relações sociais, a “morfologia social”
exemplificada em de la division du travail social; em segundo lugar,
o estudos de sociedades como sistemas morais, o ponto de vista que
domina le suicide e les formes elementaires de la vie religieuse, e
que levaria Durkheim e Mauss a prever muitos desenvolvimentos futuros
em seu ensaio la classification primitive. Ambas as abordagens podem
ser emcontradas na obra de Radcliffe- Brown dedicou-se mais ao estudo
das relações sociais, enquanto que Mauss continuou desenvolvendo o
estudo de noções cosmológicas.” (pag. 67).
“A
forma estrutural está explícita em “usos sociais”, ou normas
sociais, os quais se reconhecem geralmente como obrigatórios
e são largamente observados.Portanto, esses usos sociais têm
características dos “fatos sociais” de Durkheim, mas
Raddcliffe-Brown insistiu, uma vez mais em que não eram deduzidos
mas observados.” (p.69)
“Ao
que parece, a meta consistia, frequentemente,em descobrir as
características gerais da “área de cultura”, desvestir(por
exemplo) a forma andamanesa típica de quaisquer variações locais,
e, por vezes, Radcliffe-Brown parece reter método difusionista.”
(p.70)
“ Em
última instância, a coaptação requer a padronização de crenças
e sentimentos, as quais se mantêm vivas através de rituais e
símbolos. Mas essa área da vida social – correspondente ao
“consciente coletivo” de Durkheim – não poderá ser estudada
isoladamente,como acreditava Malinowski e a maioria dos antropólogos
americanos.” (p.70)
“Ao
investigar o sistema de parentesco, Radcliffe-Brown concentrou-se em
dois dos seus aspectos: (1) os usos que governam as relações entre
parentes;e (2) os termos usados para se dirigir a parentes ou
fazer-lhes referência.” (p.75)
“O
eixo central do sistema de parentesco era a família – uma noção
que Radcliffe – Brown tomou de Westermarck.” (p.76)
“A
abordagem desenvolvida por Radcliffe – Brown contrastou
nitidamente com o método clássico, no qual as terminologias de
parentescos eram encaradas como fósseis, pertencendo a um sistema
desaparecido do parentesco.” (p.76)
“Esse
tipo de explicação foi frequentemente invocado por Malinowski e
passou a ser conhecida como hipótese “extensionista”, porquanto
se desenvolve das relações dentro da família para relações com
os parentes mais distantes, e pressupõe que, à medida que a criança
vai crescendo, ela amplia realmente os sentimentos que contraiu por
seus pais aos siblings
deles.” (p.78)
“Radcliffe-Brown
adotou posteriormente um diferente método.Em vez de argumentar em
termos de extensão dos sentimentos, colocou o problema- e, mais
genericamente, toda questão das relações de “gracejo” – no
contexto das possíveis formas de “aliança”.” (p.78)
“Foi
assinalo que, embora não cite Freud, a teoria das relações de
gracejo é coerente com a famosa teoria de Freud sobre o chiste.”
(p.80)
“A
primeira objeção de Radcliffe-Brown era que os etnólogos
formulavam suas teses a partir de provas inadequadas. Não eram
estreitamente historiadores, visto que as sociedades de que se
ocupavam careciam de consciência histórica, e a história delas não
era documentada.” (p.80)
“Argumentou
que a nova Sociologia deveria manter um relacionamento cauteloso mas
cordial com a Psicologia.” (p.81)
“Em
contrate, Radcliffe-Brown compartilhou sempre do ponto de vista de
Durkheim e Roscoe Poud, um ponto de vista relacionado”não com as
funções biológicas mas com funções sociais, não com o
‘indivíduo’ biológico abstrato mas com ‘pessoas’ concretas
de uma sociedade.Isso não pode expressar-se em termos de cultura.
Com efeito, ele deveria ter mais tarde:”Com efeito, ele escreveria
oponente sistemático do funcionalismo de Malinowski, posso ser
chamado de antifuncionalista.” (p.82)
KUPER,
Adam. Antropólogos
e Antropologia. Tradução
de Álvaro Cabral.Rio de Janeiro,F.Alves, 1978.
COMPLEMENTO
AO FICHAMENTO
Para
Radcliffe- Brown, a diferenciação entre estrutura e organismo
sociais é que enquanto o primeiro é um encadeamento de relações
sócias onde o individuo relaciona-se com o todo, o segundo é a
centralização dos próprios indivíduos. Ele
compara em seus estudos a sociedade e suas relações com os
funcionalismos biológicos, não literalmente, mas como um modelo,
por isso é denominado de funcionalista. Mesmo
às vezes negando Durkheim, apesar da incrível influência do mesmo
em seus trabalhos. Ele procurou tirar o rotulo dado por inúmeros
intelectuais da antropologia onde dizem a mesma ser uma ciência que
estuda a cultura. Para Brown, o estudo das estruturas e das
funcionalidades da sociedade é a verdadeira roupagem da
antropologia.