segunda-feira, 7 de maio de 2012

FICHAMENTO RADCLIFFE BROWN

Radcliffe – Brown, por sua vez, introduziu a disciplina teórica da sociologia francesa e veio em ajuda dos novos pesquisadores de campo com uma bateria mais rigorosa de conceitos.” (pág. 51).

Na verdade, ele também era um homem de extremos, obcecado pela sua mensagem; tal como Malinowski, era um egomaníaco e um dogmático.”
Radcliffe – Brown sofreu a influencia das teorias sociológicas de Durkheim antes da I Guerra Mundial, e os anos produtivos de sua carreira foram dedicados à aplicação dessa teoria às descobertas dos etnógrafos; uma atividade que ele compartilhou durante a maior parte de sua vida com Mauss, sobrinho de Durkheim.” (pag. 52).

O desejo de Brown era fazer os exames de ciências naturais em Cambridge, o seu diretor de estudos insistiu em que era preferível apresentar-se em ciências mentais e morais. Entre os seus professores estavam Myers e Rivers, ambos psicólogos médicos e veteranos da expedição aos estreitos de torres, o empreendimento pioneiro de Cambridge na área de pesquisa antropológica de campo. O curso abrangia psicologia e filosofia, incluindo a filosofia da ciência, que era lecionada em parte por Alfred North Whitehead. Em 1904, tornou-se o primeiro aluno de Rivers em antropologia.” (pag. 53)

Guiado por Rivers e Haddon, Brown realizou um estudo das ilhas Andaman em 1906-8. O seu relatório granjeou-lhe um fellowship no Trinity, que ele manteve de 1908 a 1914, embora durante esse período também desempenhasse funções docentes, por pouco tempo, na London school of economics. A sua monografia inicial sobre Andaman concentrou-se em problemas etnológicos e refletia as propensões difusionistas de Rivers. Entretanto, não tardou em converter-se à concepção durkheimiana da sociologia.” (pag. 53).

Em 1909-10, Brown proferiu uma serie de conferencias na L.S.E e em Cambridge, quais expos o ponto de vista essencialmente durkheimiano que iria manter pelo resto da vida.”
... ao voltar-se para Durkheim, ela fazia parte de um movimento bastante generalizado na Grã-Bretanha nessa época...” (pag. 54)

Ao mesmo tempo, é impossível avaliar o que a conversão oferecia: método cientifico, a convicção de que a vida social era ordenada de forma sistemática e suscetível de analise rigorosa, um certo desprendimento das paixões individuais, e um panache francês muito em voga.”

... a sociologia de Durkheim continua uma visão essencialmente otimista da possibilidade da auto realização do homem numa sociedade metodicamente ordenada; mas, ao mesmo tempo, o socialismo de Durkheim minimizava a “guerra de classes”, e isso talvez tivesse atraído também a Brown.”

Temos a sorte de possuir um retrato penetrante de Brown em seus anos em Cambridge. Ele fez amizade com um estudante um pouco mais moço do que ele, E.L. Grant Watson, que cursava ciências naturais mas se tornou depois romancista e uma espécie de místico. Watson acompanhou Brown em sua primeira expedição de campo australiana.” (pag. 54).

Não seria seguro, entretanto, basear quaisquer argumentos de importância para a sociologia somente na descrição acima do sistema andamanês de relações.” (pag. 58)

... método analítico; no que dizia respeito a pesquisa de campo, contentou-se em descrever o trabalho como um estudo de aprendizado, e apoiou-se maciçamente nos relatos etnográficos de um antigo residente das ilhas.” (pag. 58)

Mais tarde, foi convertido em ponto de vista durkheimiano de que o significado e a finalidade dfos costumes devem ser entendidos em seu contexto contemporâneo...” (pag.58)

Radcliffe – Brown dividiu os “costumes” em três tipos: técnicos, regras de comportamento e aquilo a que chamou “costumes cerimoniais”, nos quais concentrou sua atenção. Os costumes cerimoniais incluíam aquelas ações executivas executadas convencionalmente em ocasiões de mudanças no curso da vida social.” (pag. 58).

Apesar desse triunfo no campo, ficou uma vez mais evidente que o seu trabalho era etnografia “de levantamento e de aproveitamento de salvados”, e que era estéril em comparação com o tipo de trabalho de campo que Malinowski estava realizando nas Trobriand.” (pag. 60).

Para os que trabalhavam com ele nesse período, Radcliffe – Brown era o líder de um desafio há muito esperado a Malinowski, representando senso clareza e sociologia.” (pag. 64).

A sociologia de Durkheim foi a mais importante influencia sobre o pensamento maduro de Radcliffe – Brown, mas ele também permaneceu um evolucionista na tradição de Spencer.” (pag. 65)

A analogia orgânica não deve, é claro, ser interpretada de forma excessivamente literal. Como Radcliffe – Brown observou certa vez, “as sociedades não são organismos; não conhecem o que é parto nem morte.”” (pag. 65)

Apesar das menções iniciais a uma explicação “cultural” e “psicologica”, a sua orientação desde 1910 foi definitivamente psicológica. Para ele, a sociologia significava a espécie de trabalho realizado por Durkheim e , acrescentava as vezes, Steinmetz e Westermarck, mas era certamente a corrente geral de pesquisa e reportagem social que passava por sociologia nos Estados Unidos. Ignorava, segundo tudo leva a crer, a obra de Weber e Simmel, mas as teorias destes só se tornaram amplamente conhecidas na Grã- Bretanha na década de 19540.” (pag. 65).

E assim, depois da I Guerra Mundial, coube a Mauss e a Radcliffe – Brown trabalharem paralelamente para desenvolver a sociologia durkheimiana. Poderíamos resumir o desenvolvimento desde Durkheim ate Mauss e Radcliffe- Brown dizendo simplesmente que os estudos de Malinowski nas ilhas Trobriand se situaram de permeio. Curiosamente, eles influenciaram mais o trabalho de Mauss do que o de Radcliffe – Brown, e o próprio Malinowski não tardaria em afastar-se das preocupações e ideias de Durkheim.” (pag. 67)

Mas eu exagerei a unidade do legado de Durkheim, já que podemos distinguir, pelo menos, duas correntes divergentes, uma que foi seguida por Mauss enquanto Radcliffe- Brown adotava a outra. Em primeiro lugar, havia o estudo das relações sociais, a “morfologia social” exemplificada em de la division du travail social; em segundo lugar, o estudos de sociedades como sistemas morais, o ponto de vista que domina le suicide e les formes elementaires de la vie religieuse, e que levaria Durkheim e Mauss a prever muitos desenvolvimentos futuros em seu ensaio la classification primitive. Ambas as abordagens podem ser emcontradas na obra de Radcliffe- Brown dedicou-se mais ao estudo das relações sociais, enquanto que Mauss continuou desenvolvendo o estudo de noções cosmológicas.” (pag. 67).

A forma estrutural está explícita em “usos sociais”, ou normas sociais, os quais se reconhecem geralmente como obrigatórios e são largamente observados.Portanto, esses usos sociais têm características dos “fatos sociais” de Durkheim, mas Raddcliffe-Brown insistiu, uma vez mais em que não eram deduzidos mas observados.” (p.69)

Ao que parece, a meta consistia, frequentemente,em descobrir as características gerais da “área de cultura”, desvestir(por exemplo) a forma andamanesa típica de quaisquer variações locais, e, por vezes, Radcliffe-Brown parece reter método difusionista.” (p.70)

Em última instância, a coaptação requer a padronização de crenças e sentimentos, as quais se mantêm vivas através de rituais e símbolos. Mas essa área da vida social – correspondente ao “consciente coletivo” de Durkheim – não poderá ser estudada isoladamente,como acreditava Malinowski e a maioria dos antropólogos americanos.” (p.70)

Ao investigar o sistema de parentesco, Radcliffe-Brown concentrou-se em dois dos seus aspectos: (1) os usos que governam as relações entre parentes;e (2) os termos usados para se dirigir a parentes ou fazer-lhes referência.” (p.75)

O eixo central do sistema de parentesco era a família – uma noção que Radcliffe – Brown tomou de Westermarck.” (p.76)

A abordagem desenvolvida por Radcliffe – Brown contrastou nitidamente com o método clássico, no qual as terminologias de parentescos eram encaradas como fósseis, pertencendo a um sistema desaparecido do parentesco.” (p.76)

Esse tipo de explicação foi frequentemente invocado por Malinowski e passou a ser conhecida como hipótese “extensionista”, porquanto se desenvolve das relações dentro da família para relações com os parentes mais distantes, e pressupõe que, à medida que a criança vai crescendo, ela amplia realmente os sentimentos que contraiu por seus pais aos siblings deles.” (p.78)

Radcliffe-Brown adotou posteriormente um diferente método.Em vez de argumentar em termos de extensão dos sentimentos, colocou o problema- e, mais genericamente, toda questão das relações de “gracejo” – no contexto das possíveis formas de “aliança”.” (p.78)

Foi assinalo que, embora não cite Freud, a teoria das relações de gracejo é coerente com a famosa teoria de Freud sobre o chiste.” (p.80)

A primeira objeção de Radcliffe-Brown era que os etnólogos formulavam suas teses a partir de provas inadequadas. Não eram estreitamente historiadores, visto que as sociedades de que se ocupavam careciam de consciência histórica, e a história delas não era documentada.” (p.80)

Argumentou que a nova Sociologia deveria manter um relacionamento cauteloso mas cordial com a Psicologia.” (p.81)

Em contrate, Radcliffe-Brown compartilhou sempre do ponto de vista de Durkheim e Roscoe Poud, um ponto de vista relacionado”não com as funções biológicas mas com funções sociais, não com o ‘indivíduo’ biológico abstrato mas com ‘pessoas’ concretas de uma sociedade.Isso não pode expressar-se em termos de cultura. Com efeito, ele deveria ter mais tarde:”Com efeito, ele escreveria oponente sistemático do funcionalismo de Malinowski, posso ser chamado de antifuncionalista.” (p.82)


KUPER, Adam. Antropólogos e Antropologia. Tradução de Álvaro Cabral.Rio de Janeiro,F.Alves, 1978.




COMPLEMENTO AO FICHAMENTO


        Para Radcliffe- Brown, a diferenciação entre estrutura e organismo sociais é que enquanto o primeiro é um encadeamento de relações sócias onde o individuo relaciona-se com o todo, o segundo é a centralização dos próprios indivíduos. Ele compara em seus estudos a sociedade e suas relações com os funcionalismos biológicos, não literalmente, mas como um modelo, por isso é denominado de funcionalista. Mesmo às vezes negando Durkheim, apesar da incrível influência do mesmo em seus trabalhos. Ele procurou tirar o rotulo dado por inúmeros intelectuais da antropologia onde dizem a mesma ser uma ciência que estuda a cultura. Para Brown, o estudo das estruturas e das funcionalidades da sociedade é a verdadeira roupagem da antropologia.

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